Volta à Cáceres
- Pantanal 360
- 20 de out.
- 4 min de leitura
Como de costume, o dia começa bem cedo na Chalana Cobra Grande. A tripulação inicia seus afazeres. O Capitão Dito checa os motores, os geradores, o leme, o combustível e tudo mais sob sua responsabilidade. Gaspar e Wellington preparam o café da manhã para nós e a tripulação. Barba e Adriano cuidam das voadeiras, abastecem, e as deixam prontas para quando precisarmos descer da chalana. Só o Adriano que está mais de repouso: lá no Amolar, o ácido úrico atacou e o pé dele inchou muito. Ele está com bastante dificuldade de caminhar e com muita dor. Os analgésicos que eu tinha, dei todos a ele.
Eram umas 14h quando cruzamos com uma embarcação da Marinha do Brasil, uma chalana bem grande, e logo atrás uma pequena corveta. O Capitão os chamou perguntando se havia médico a bordo para atender o Adriano. Nos informaram que o médico estava na embarcação maior, que seguia bem à frente sentido Corumbá, mas que eles haviam cortado o motor e esperariam para que o Adriano fosse levado a bordo para o enfermeiro medicá-lo. E assim foi feito. O Barba colocou ele na voadeira, e nós ficamos ancorados à espera do atendimento. Fui eu quem deu as orientações sobre o estado de saúde dele, e disse quais os medicamentos que havia tomado. Perguntei se não tinham colchicina ou corticoides a bordo. O enfermeiro me respondeu que daria uma injeção de corticoide com anti-inflamatório, pois a colchicina, o remédio para tratar esses inchaços de ácido úrico, ele não tinha a bordo.
Adriano voltou e foi repousar, e nossa viagem seguiu. Depois das 16h30, pedi ao Barba para sairmos na voadeira, pois estávamos chegando perto de algumas baías grandes que eu não havia fotografado na vinda. Saímos, e foi bem legal; elas eram muito grandes e bonitas.
Seguimos viagem e paramos para dormir às 19h.
O dia amanheceu nublado, mas bonito, e chegamos novamente à Reserva Taiamã. Navegamos o dia todo dentro dela. Saímos por volta das 17h. Agora falta um dia e meio para chegarmos a Cáceres. O jantar foi bem gostoso, muito peixe frito e pirão. "Amanhã teremos churrasco", disse Gaspar. E é ele mesmo quem faz e muito bem. Na popa do barco, quase pendurada sobre a água, há uma churrasqueira, engenhosamente colocada ali, ocupando pouco espaço. Esqueci de mencionar, mas aqui na popa é onde embarcamos na voadeira e onde lavamos as roupas, o que fiz quase todos os dias. Depois de lavadas, colocamos nos cabos (embarcado não se usa o termo corda) para secarem. Meio que damos uns nós para elas não voarem com o vento, bem interessante.
Almoço com churrasco, cerveja e refrigerantes. Nem comi arroz, nem mais nada, só carne assada, de tão boa que estava. O Gaspar assou uns pedaços de pintado que eu pedi ontem, pois gosto muito de peixe assado na brasa.
No pôr do sol, fotografei mais algumas garças, bem menos que na ida, mas ficou bem bonito!
Dormimos já bem próximos de Cáceres, depois da Fazenda Descalvados, um pouco à frente, rio acima da Fazenda Barranco Vermelho. Amanhã, até o meio-dia, estaremos no porto.
Acordamos bem cedo. O Capitão Dito colocou um ritmo mais lento de subida. Disse que era para assim termos nosso último almoço embarcado, para termos mais boas lembranças da boa comida do Wellington. Rimos e concordamos; a comida dele é muito boa!
Paramos numa comunidade de pescadores e coletores de iscas, que é comandada por uma mulher, Dona Ilza. Nem ela, nem o seu pessoal, estavam lá. Como é época de cheia e temporada de pesca, estavam todos nas baías, coletando as preciosas tuviras e mussuns que os pescadores compram para fazer a pesca esportiva. Os ranchos bem simples, com redes para dormir, chão batido de terra, e algumas galinhas e mutuns soltos pastavam entre as folhagens.
Paramos no Morro Pelado, uma pedra enorme na morraria, onde fazem algumas homenagens aos santos e às pessoas que pescaram sempre por ali e já faleceram. Foi bem legal subir lá, vista privilegiada do Rio Paraguai.
O Barba, desde a ida, estava à procura de uma muda de Cajazinho para levar para um colega e vizinho de chácara dele, mas não a achava. Toda vez me falava: "No viveiro Véio do Rio eu acho." E finalmente chegamos ao tal viveiro. Lá estava a muda que ele tanto queria. Levou-a e deixou bastante semente de cajazinho, que ele encontrou pela ida. Disse que assim a galera do Gaia (Instituto Gaia de Cáceres) e das comunidades fazem mudas delas. É uma troca que ele diz ser comum entre as comunidades tradicionais. Achei muito legal a comunidade se envolver com a restauração em forma de mudas plantadas às margens do rio e nas baías.
Chegamos a Cáceres logo após o almoço. Ver a ponte da BR-070, agora de frente, significa a chegada à cidade. Fica o sentimento de uma viagem dos sonhos, que eu sempre quis fazer: ver o Pantanal profundo e conhecer a Serra do Amolar. No caminho, muitas surpresas, como a onça cruzando o rio a nado, as revoadas intermináveis de centenas de milhares de garças branquinhas, os biguás e biguatingas pretos pontilhando entre as garças branquinhas — um espetáculo após o outro.
E aqui termino esse diário, com a certeza de que farei muitos outros em viagens pelo Pantanal, tanto do Mato Grosso quanto do Mato Grosso do Sul.



































