Cáceres – Taiamã / Gaíva
- Pantanal 360
- 20 de out.
- 4 min de leitura
Acordamos muito cedo, às 4h40. Quero ver todas as nuances do nascer do sol sob a perspectiva da chalana, de dentro do Rio Paraguai, sem perder nenhum detalhe. Afinal, isso tudo é inédito para mim e para toda a nossa equipe!
Conversando com o Gaspar, ele me conta as inúmeras vezes que fez essa navegação e de como ela sempre o emociona pela beleza e pela conexão que ele tem com o Rio Paraguai. É interessante que todos da tripulação me contaram coisas bem parecidas e de como gostam dessa vida de idas e vindas pelo Pantanal.
Tomei um café preto e fui para o deck superior, onde a vista para o rio é privilegiada. Câmera na mão, olhos atentos ao nascer do sol, e lá vem ele, surgindo por trás do campo inundado. Escolhi colocar uma árvore no enquadramento, para ter uma dimensão da sua grandeza e da beleza que se descortinava diante dos meus olhos e da minha câmera. E aí foi foto de grande angular, média angular, teleobjetiva e muitas variações de exposição: uma farra da semiótica.
Saímos na voadeira com o Barba, eu, Laise e Francisco, para fazer as panorâmicas da Reserva Taiamã. Navegamos pelo bracinho do Rio Paraguai, que é por onde as chalanas fazem seu caminho. Paramos bem em frente à placa para fazer algumas fotos e dali mesmo decolei o drone. Que imensidão de água, banhados, meandros e corixos! O rio serpenteando para todos os lados que olhei. Dá para ver nas árvores mortas o resultado das últimas temporadas de seca, que provocaram tantos incêndios, o que eram capões de mata se transformando em savanas e campos abertos. Vai demorar para o Pantanal se recuperar disso, mas com a ajuda de todos, pela preservação e restauração, isso vai acontecer.
Nas pesquisas que fiz e conversando com o professor Clóvis e a professora Solange, do Instituto Gaia, eles me falaram sobre a Reserva Taiamã: ela é uma ilha no Rio Paraguai, com 11.000 km2. É Reserva da Biosfera da UNESCO e o ICMBio é o guardião deste santuário que recebe pesquisadores do Brasil e de muitos países. É importante para a reprodução de peixes e invertebrados de todas as espécies, formas e tamanhos, lar de ariranhas e da onça-pintada, que, segundo os estudos, tem uma densidade bem fora do normal, que é de 6 indivíduos a cada 100 km2. Aqui é o dobro disso, uma das provas de que o alimento farto e a falta de contato com seres humanos podem, sim, criar um ambiente propício para a vida selvagem!
Fotos concluídas, voltamos para a chalana e a viagem seguiu, navegando sempre com a Reserva à nossa direita ou boreste, como diz o Capitão Dito. Subi em cima da cabine de comando para fazer algumas fotos com a câmera na mão e vídeos 360º. Que sensação boa demais! Dia lindo, céu muito azul com nuvens, vento no rosto e uma sensação de liberdade indescritível. Queria muito que todos que o desejam pudessem ver e sentir o Pantanal assim, com essa vista, e pudessem experimentar esse sentimento.
Antes do almoço, ainda naveguei mais uma vez com a voadeira para mais panorâmicas, numa área com grandes capões de mata e campos a perder de vista!
Logo depois do almoço, uma grande surpresa: senti a chalana diminuir bruscamente a velocidade e, na sequência, Capitão Dito gritou: "Olha a onça!" Eu estava com a teleobjetiva na câmera para fotografar um tuiuiú quando o ouvi. Comecei a procurar na margem, e ele grita novamente: "Está atravessando o rio a nado!" Corri para a popa e a vi nadando uns 50 metros à nossa frente. Algumas fotos e ela entrou rápido na margem. Foi muito emocionante! Francisco fez um vídeo ótimo! Laise estava boquiaberta com o tamanho dela, e eu fiquei feliz demais por ter presenciado esse momento!
No fim do dia, novamente fomos com a voadeira para mais panorâmicas e fotos dos campos da Reserva. Estou desconfiado que terei muito trabalho em editar tudo isso, pois a cada momento ou foto, acho que aquela é a melhor, que logo é substituída por mais 3 ou 5. Será um trabalho árduo, mas de puro encanto com tantas paisagens lindas que capturei.
Logo que voltamos para a chalana, chegamos a um lugar com muitas curvas. Aqui os lugares têm nomes muito pitorescos, como: Volta do Bugio, Estirão do Conceição, e numa dessas voltas de nomes sui generis encontramos o maior bando de garças que já vi nesses 20 e tantos anos fotografando no Pantanal. Eram centenas, milhares, muitas garças pontilhando o céu de branco com seu voo gracioso e elegante. Conforme avançávamos com a chalana, parecia que íamos tangendo-as, pois sempre voavam para a frente do barco. Foi um grande espetáculo, e foram dois em um dia: a Onça e as Garças.
O pôr do sol chegou com o tempo um pouco nublado, e continuamos a navegação. Segundo nosso capitão, é para evitar a invasão das cigarrinhas que tanto nos atormentaram na noite passada. De manhã, antes de zarpar, a tripulação teve que lavar a chalana, de tantas que ainda havia, mortas e vivas também. A vida desses insetos é muito efêmera, o ciclo é muito curto! Navegamos até as 19h30, quando paramos. O jantar foi servido. Aqui um aparte: tenho certeza que irei engordar nessa viagem, que comida boa e farta, e quanta gentileza de toda a tripulação! Jantamos, conversamos. Francisco e Laise foram dormir cedo. Eu fiquei ainda um tempo acordado, editei as fotos, copiei os cartões para os HDs, organizei todo o trabalho feito no dia, e ainda escrevi no meu diário. Sim, eu escrevo à mão tudo o que foi o dia; desde que comecei na fotografia, desde a primeira viagem que fiz para fotografar, eu faço isso: escrevo à mão meu diário.
Tudo feito, organizado, baterias nos carregadores, uma última ida ao deck para ver o céu que estava muito estrelado, e dormir. Amanhã, como de costume, acordo antes do sol!

















































