Cáceres – Comunidade Amolar
- Pantanal 360
- 20 de out.
- 6 min de leitura
Acordamos muito cedo, às 4h30. O dia nem havia raiado ainda, mas já percebo que está bem nublado, com nuvens pesadas por todo o horizonte. Fiquei bastante preocupado, mas o Capitão Dito me confortou dizendo que ficaríamos o tempo que eu precisasse para fazer as fotos.
Tomei café com calma. O dia nasceu, mas, como eu havia visto mais cedo, tudo estava cinza e com uma garoa que ia e voltava. Vimos as crianças embarcarem no transporte escolar, que aqui são lanchas fechadas, amarelas, iguais aos ônibus, e com "escolar" escrito na lateral.
Descemos no barco menor e fomos dar uma volta pelo rio, tomando o caminho no sentido Corumbá. Olhamos os morros de pertinho, entramos em uma baía cerca de 30 minutos rio abaixo e decolamos o drone. A Serra do Amolar, vista por esse outro ângulo, comunidade abaixo, revela lagoas enormes cercadas pela morraria muito alta do Amolar, um espetáculo, mas completamente cinza por conta do tempo fechado. Quando começou a chover novamente, eu já estava com o drone bem perto de mim. Pousei-o em segurança no barquinho e voltamos para a chalana, e aí sim caiu uma chuva mais forte.
Quando ela parou por volta das 10h, fomos até a comunidade. Conversamos com a Edilaine, entrevistei-a na sua casa. A residência é simples, mas muito aconchegante. Ela me falou das dificuldades e do quão bom é morar ali no Amolar. Ela, que nasceu na comunidade, vive da pesca, da coleta de iscas e ajuda o pai e a mãe, seu Beto e dona Olinfa, na pousada recém-montada por eles na própria casa para receber turistas que desejam conhecer o Amolar.
É nítido no sorriso e nas expressões o quanto a Edilaine gosta do Pantanal e de morar no Amolar. Cria seu menino ali, que vai à escola na Comunidade Barra do São Lourenço, e ao lado do marido, que trabalha com carteira assinada na ECOA, levam uma vida simples, mas com muito amor e paixão por esse lugar. Terminada nossa conversa, ela nos convidou a ir à pousada do pai e da mãe, que fica perto, rio acima e entrando em uma baía. Ela foi com seu barco na frente, tirando os aguapés que estavam no caminho, com uma destreza enorme no manejo do barco com motor de popa. Vê-se que ela cresceu ali, lidando com esse ambiente, aprendendo como usar, e muito bem, um barco.
Chegamos a uma casa simples, mas muito acolhedora. Uma sala grande que foi convertida em um salão para almoços e cafés da manhã para a família e, quando há turistas, para eles.
Seu Beto, um homem de prosa fácil, sorriso acolhedor, e dona Olinfa, mais tímida, mas muito sorridente, nos preparou um café fresquinho e muito gostoso, ainda mais com a prosa boa.
Gravei seu Beto falando do Pantanal, de como é morar no Amolar, do ataque que ele sofreu de uma onça quando suas filhas eram pequenas e de como o cachorro dele o salvou. O Pantanal é sempre feito de muita vida selvagem e também de muitas pessoas que ancestralmente vivem nessas terras e aprendem com a natureza a lidar com todo tipo de desafio que ela impõe. Ele nos conta que veio com um ano de idade de Poconé, no Mato Grosso (hoje tem 54 anos). Seu pai ficou sabendo dessa comunidade e veio para cá conquistar seu pedacinho de terra, que nessa época era muito mais selvagem e não pertencia a donos, e sim ao estado brasileiro. Fixou moradia primeiro na Comunidade Amolar e saiu em busca de seu pedaço de terra, que é onde seu Beto mora com sua esposa, numa baiazinha, subindo o rio Paraguai em direção à Boca do Amolar, bem no pé de uma morraria muito bonita.
Voltamos à chalana e a chuva voltou junto conosco da casa do seu Beto. Almoçamos e dormi um pouco. Todos esses dias acordando muito cedo estavam me deixando cansado. Aproveitei a chuva para dormir um pouco.
Por volta das 14h30, atravessamos o rio mais uma vez para conversar com o pai da Irani, que havíamos encontrado na casa da Edilaine mais cedo. Seu Valdemar, um homem alto, sorridente e muito simpático, e do alto dos seus 82 anos, é um guardião das histórias e estórias do Amolar.
Ele nos contou que nasceu ali, na comunidade, e foi seu avô paterno quem a fundou. Ele, um irmão e dois sobrinhos, saíram de Corumbá rio acima para encontrarem terras para criar gado. Fizeram o trajeto por barco a remo, a pé pelos meandros da Serra do Amolar, até encontrarem aquele lugar, onde, segundo eles, não haviam marcas de que a água não chegava a todo o terreno na época das águas. O nome, segundo seu Valdemar, foi dado pelo tio-avô. Um dos filhos foi até a beira do rio pegar água e, no caminho, voltou com uma pedra, a qual usou para amolar o facão, e que se mostrou uma ótima ferramenta para dar corte novamente ao facão. O tio-avô perguntou onde ele havia achado a pedra, e ele respondeu que foi na beira do rio. Assim, batizaram a Serra como Amolar, onde tem pedra boa para amolar os facões.
Ele nos contou sobre sua lida com a terra, o gado, as navegações que fazia subindo e descendo o rio Paraguai, que levou muito gado embarcado para ser abatido em Descalvados, e que foi muito a Corumbá para levar charque, tanto de Descalvados quanto da Barranco Vermelho. E que, eventualmente, ia na Fazenda Jacobina buscar matrizes para depois descer o rio com elas para reproduzir ali pelas fazendas do Amolar. Nos conta que viu muita cheia, mas como a de 1974, nunca. Disse que sua casa sempre foi de 2 andares e que nessa cheia a água quase chegou no segundo piso. Morreu gente, criação e acabou com todas as roças de mandioca, banana e feijão que eles sempre cultivaram. Levou uns 4 anos para tudo voltar ao normal, mas que o Rio Paraguai nunca mais foi o mesmo depois dessa cheia.
Muitas e muitas histórias boas e cativantes. Poderia ficar ali dias ouvindo-as, mas o tempo abriu e eu precisava fazer as fotos.
Fomos para a área externa e decolamos o drone. Com o céu azul e ainda um pouco encoberto, fiz ótimas fotos da comunidade. Nos despedimos e voltamos à chalana. Estava ansioso para olhar as fotos e escrever tudo o que eu havia ouvido e presenciado nesse dia.
Por volta das 14h30 zarpamos para nossa volta à Cáceres, uma última olhada na comunidade la do deck, acenos a quem estava em terra, e começamos a navegar, eu senti um misto de saudade do que vivera ali, com a certeza que logo voltarei, a Serra do Amolar tem muitas belezas a serem vistas e quero todas elas registradas nas minhas fotos e memórias.
Já bem próximo ao principal conjunto de morros da serra, colocamos a voadeira na água e partimos para fazer as fotos que na volta não foi possivel por causa da chuva, se bem que não ia ser fácil, pois, o tempo estava aberto de um lado e completamente fechado de outro, mas sei bem como essa luz pode ser muito interessante, e nas panorâmicas eu consigo mostrar tudo, fica muito legal essa grande diferença, e foi o que aconteceu, ja na Boca do São Lourenço, que tem esse nome, mas quem desagua ali é o Rio Cuiabá, fiz uma das fotos mais legais de toda expedição. Em cima do Rio Cuiabá a chuva era forte, quase encobrindo o morro do Caracará, e em cima da morraria mais alta da Serra do Amolar o sol se pondo, o que deu um arco-íris lindo com nuvens a frente dele de um tom rosa-avermelhado lindo, com certeza uma das fotos mais bonitas que fiz durante esse trabalho.
Aqui um aparte, os pernilongos estavam em tamanho número, que era impossível ficar ancorado nos agua-pés, decolava o drone e o Barba já colocava o barco no meio do rio, pareciam que vinham em nuvens!
Acelerei as fotos, fiz alguns minutos de vídeo e retornamos à margem para pegar o drone, pouso feito em segurança, voltamos para a chalana, pois a chuva nos alcançou, mas consegui fazer as fotos que não havia conseguido fazer na vinda, por conta da chuva!
Continuamos a navegar com chuva, agora mais forte e com vento. Quando chegamos a Baia Gaíva tivemos que ancorar na margem, o vento aumentou muito e as ondas dentro da baia estavam muito altas, e chegando ao rio Paraguai com muita força, o que o Capitão Dito disse ser muito perigoso, ficamos ancorados por quase 2 horas, quando a chuva começou a diminuir o vento também diminuiu a velocidade e voltamos a navegar.
Eu aproveitei o tempo ali parado para olhar tudo que havia feito desde a manhã, e quando acabei fui dormir um pouco, aliviar o cansaço e a tensão, agora eu sabia que o trabalho foi feito e tinha fotos lindas e que contam a história que eu queria contar para as pessoas que irão ver esse tour virtual. Dever cumprido, fotos lindas e muitas histórias para contar!
Ancoramos por volta de 19h30 para dormir, já próximos do início da Serra Bela.

























































